quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Fasciite necrotizante

Fasciite é um evento inflamatório que afeta qualquer fáscia. 
Fáscia é uma membrana conjuntiva fibrosa que pode ser encontrada em diferentes topografias, na maioria das vezes envolvendo feixes musculares, cobrindo tendões, ligamentos, e revestindo muitas estruturas e cavidades corporais. 
Temos fáscias por todas as partes de nosso corpo e. dependendo de sua localização, pode receber variadas denominações: fáscia cribiforme, plantar, cervica, crural, etc.
Necrotizante é aquilo que provoca necrose, ou seja, morte de tecidos em alguma região do nosso corpo.
Logo, Fasciite Necrotizante(FN) quer denominar a formação de tecido necrosado em decorrência de um processo inflamatório que, por sua vez, é consequência da invasão por microrganismos patogênicos (infecção).
A fáscia que nos interessa aqui é a fáscia superficial e profunda que revestem todo o corpo e estão imediatamente sob a pele. Vamos chamá-la de FÁSCIA SUBCUTÂNEA (FS).
Uma das características de Fasciite Necrotizante (FN) é a rapidez de propagação da infecção. E a velocidade dessa propagação, segundo Dr. Richard F. Edlich,MD, é diretamente proporcional à espessura da camada subcutânea e se propaga ao longo do plano fascial.
A FN recebe algumas outras denominações, a saber: gangrena estreptocócica hemolítica, fasciite supurativa, celulite necrotizante e outras. Quando afeta a região perineal e/ou escrotal recebe a alcunha de Gangrena de Fournier.
Algo em torno de 30% dos afetados por FN são diabéticos.
Desde uma simples picada de inseto até intervenções cirúrgicas podem desencadear a invasão bacteriana levando à FN. 
O Estreptococo Beta-hemolítico do grupo A é considerado o principal agente dessa infecção e muito frequentemente está em associação com outros microrganismos patogênicos.
O diagnóstico tardio da FN pode ser fatal. 
Portanto a suspeita clínica deve se transformar em ações imediatas para que a infecção não evolua para danos sistêmicos irreversíveis. Não foi à toa que vítimas da FN criaram a National Necrotizing Fasciites Foundation, onde contam suas estórias e compartilham suas experiências.


Relato de caso

Sexo masculino, 55 anos, diabético, sofreu "ferroada" de animal por ocasião de pescaria. Informa que a ferroada pode ter sido por uma arraia de água doce. Evoluiu com dores muito fortes no local, inchação da perna e formação de ferida.



Figura 1. Aspecto da ferida por ocasião da primeira consulta. Apesar do aspecto sugestivo de ferida venosa, o componente álgico e a rapidez da evolução para pior despertaram a suspeita de Fasciite Necrotizante.









Figura 2. Ferida após amplo desbridamento dos tecidos necrosados até a fascia. Observa-se a presença de veia ocupada por trombo, provavelmente séptico. A demora na limpeza cirúrgica pode significar a disseminação da infecção que pode evoluir para sepsis.








Figura 3. Quatro sessões de curativo com terapia por pressão negativa ambulatorial foram realizadas usando o sistema da Coloplast
ExtriCare® Negative Pressure Wound Therapy






Figura 4. Ferida em fase final de cicatrização.
A suspeita diagnóstica precoce foi determinante para a obtenção do resultado, não permitindo o agravamento da lesão e de sua disseminação sistêmica.