segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Carvão Ativado em feridas crônicas

Lemos na Wikipédia que o carvão ativado "é um material de carbono com porosidade bastante desenvolvida" e "tem a capacidade de coletar selectivamente gases, líquidos ou impurezas no interior dos seus poros, apresentando portanto um excelente poder de clarificação, desodorização e purificação de líquidos ou gases."

Na realidade o carvão é carbono e torna-se ativado ao ser tratado com oxigênio que vai abrir uma infinidade de minúsculos poros, o que lhe confere uma imensa capacidade adsortiva.
Adsorver é a capacidade de reter outras substâncias, tais como toxinas, partículas e moléculas voláteis que provocam mal odor, etc. 
O carvão ativado vem sendo usado há muito tempo em situações emergenciais de envenenamento oral, na medida em que pode absorver grandes quantidades do veneno no aparelho digestivo. 
Médicos do antigo Egito já recomendavam o carvão para diversas enfermidades. Consta que Índios Norte Americanos usavam o carvão para infecções da pele.
O uso medicinal do carvão é anterior ao Papiro Egípcio Ebers de 1500 B.C. e com Hipócrates (400 B.C.) o seu uso estava indicado em epilépticos e doentes com Antraz.
Após o processo de ativação do carvão ( 1870 a 1920) as publicações médicas passaram a divulgar o uso do carvão ativado para distúrbios intestinais e como antídoto nos casos de envenenamento.
Atualmente o carvão ativado passou a fazer parte do arsenal de enfrentamento das feridas crônicas, sendo utilizado como desinfetante e desodorizador.
A experiência de quem lida com o tratamento das feridas crônicas deixa muito claro os efeitos negativos provocados pelo mal odor na qualidade de vida desses pacientes.
Ouvimos muitos relatos de pacientes envolvendo essa questão na vida social e familiar.
De forma que neutralizar esses odores é uma tarefa inadiável. E a capacidade adsortiva do carvão ativado pode neutralizar essas partículas voláteis emanadas das feridas.
Não cabe aqui descrever os processos metabólicos envolvendo os tecidos necróticos, bactérias dos mais diferentes tipos e outros fenômenos responsáveis pelo mal cheiro de certas feridas. É sabido que a presença de infecção por aeróbios e anaeróbios está associada ao mal odor. Em algumas situações, nem mesmo a troca mais frequente dos curativos consegue neutralizar o odor indesejável.
Portanto, o combate à infecção, de todas as maneiras disponíveis, é mandatório nesta questão.
Enquanto a causa do mal odor não estiver resolvida, os curativos baseados na tecnologia do carvão ativado e na sua capacidade de adsorver partículas voláteis, mal cheirosas ou não, podem melhorar muito a vida social de nossos pacientes.

Quais são esses curativos ?

  1. ACTISORB (Systagenix) - Pelo que sabemos, parece ter sido um dos primeiros curativos baseados em carvão ativado. O Actsorb Plus 25 contém prata, o que potencializa a atividade antibacteriana do produto.
  2. Curatec Carvão Ativado com Prata Recortável
  3. CarboFLEX® (Convatec)
  4. Carbonet (Smith&Nephew) 


Dos curativos citados, nossa experiência maior é com o Actisorb Plus 25 em seus três tamanhos.

Diferentemente do Curatec, a Actisorb não pode ser cortado.

Todos eles podem ser aplicados sob terapia compressiva.
O da Curatec é mais fácil de ser aplicado em feridas mais fundas ou cavitárias, pois é mais
  
 maleável e pode ser cortado.

O Actsorb requer mais cuidados para evitar extravasamento do conteúdo por danos à embalagem.
Ao fazer a retirada do curativo, que pode ficar até sete dias, convém umedecer bastante com soro fisiológico para evitar danos ao leito da ferida.
Em feridas muito exsudativas a frequência de

troca deve ser reavaliada ou a associação com
outras coberturas absorventes pode ser aplicada.








Na figura à direita podemos ver uma associação da cobertura de carvão ativado (Actsorb Plus) com outra cobertura absorvente de espuma (Biatain AG).
Pode ser uma boa opção para feridas em que o controle da presença bacteriana e do exsudato sejam importantes.
Neste caso trata-se de uma ferida por Fasciite Necrotizante já em fase resolutiva.



  1. Van Toller S. "Psychological consequences arising from the malodours produced by skin ulcers", Proceedings of 2nd European Conference on Advances in Wound Management, Harrogate 1992, Macmillan Magazines Ltd, Ed. Harding K.G. , Cherry G. , Dealy C. , Turner T. 1993, 70-71 
  2. Butcher G. , Butcher J.A. , Maggs F.A.P. "The treatment of malodorous wounds", Nursing. Mirror , 1976, 142, 76 .